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✢ CARTA DE CALVINO A FAREL SOBRE A MORTE DA ESPOSA
Genebra, 11 de abril de 1549. *
A informação da morte de minha esposa talvez tenha chegado até você antes. Faço o que posso para me guardar de ser esmagado pelo sofrimento. Meus amigos também não deixam nada por fazer que possa aliviar meu sofrimento mental. Quando seu irmão partiu, sua vida estava quase desesperada. Quando os irmãos foram reunidos na terça-feira, acharam melhor que nos uníssemos em oração. Isso foi feito. Quando Abel, em nome dos demais, a exortou à fé e à paciência, ela brevemente (pois, no momento, estava muito desgastada) declarou seu estado de espírito. Acrescentei depois uma exortação, que me pareceu adequada à ocasião. E então, como ela não tinha feito alusão a seus filhos, eu, temendo que, contida pela modéstia, ela pudesse estar sentindo de ansiedade a respeito deles, que lhe causaria maior sofrimento do que a própria doença, declarei na presença dos irmãos, que eu deveria continuar a cuidar deles como se fossem os meus. Ela respondeu: “Eu já tenho os comprometido ao Senhor.”
Quando respondi que isso não me impedir de cumprir meu dever, ela imediatamente respondeu: “Se o Senhor cuidar deles, sei que serão encomendados a você.” Sua magnanimidade era tão grande, que ela parecia já ter deixado o mundo. Por volta da sexta hora do dia, em que ela entregou sua alma ao Senhor, nosso irmão Bourgouin dirigiu-lhe algumas palavras piedosas e, enquanto ele fazia isso, ela falou em voz alta, de modo que todos viram que seu coração estava elevado acima do mundo. Pois estas foram suas palavras: “Ó gloriosa ressurreição! Deus de Abraão e de todos os nossos pais, em ti os fiéis confiaram durante tantos séculos passados, e nenhum deles confiou em vão. Eu também esperarei.” Essas frases curtas foram mais lançadas de súbito do que ditas nitidamente. Isso não veio da sugestão de outros, mas de suas próprias reflexões, de modo que ela deixou claro, em poucas palavras, quais eram suas próprias meditações. Eu tive que sair às seis horas. Tendo sido transferida para outro apartamento depois das sete, ela imediatamente começou a decair. Quando sentiu sua voz falhar de repente, ela disse: “Vamos orar, vamos orar. Todos orem por mim.” Eu tinha agora retornado. Ela estava impossibilitada de falar e sua mente parecia perturbada. Eu, tendo falado algumas palavras sobre o amor de Cristo, a esperança da vida eterna, sobre nossa vida conjugal e sua partida, me ocupei em oração. Em plena posse de sua mente, ela tanto ouviu a oração como a assistiu. Antes das oito ela expirou, tão calmamente, que os presentes mal puderam distinguir entre sua vida e sua morte. No momento, controlei minha tristeza para que obrigações não pudessem ter interferência. Mas nesse meio tempo o Senhor enviou outras provações sobre mim. Adeus, irmão, e excelente amigo. Que o Senhor Jesus o fortaleça pelo seu Espírito e que ele me sustente também sob esta pesada aflição, que certamente me teria vencido, se ele, que levanta o prostrado, fortalece o fraco e revigora o cansado, não tivesse estendido sua mão do céu para mim. Cumprimente a todos os irmãos e toda a sua família.
— Seu, João Calvino
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