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COMENTÁRIO DE CALVINO À 1ª CARTA DE PEDRO 3.1-2

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Mas pode parecer estranho que Pedro diga que um marido pode ser ganho para o Senhor sem a palavra. Então, por que se diz que “a fé vem pelo ouvir?” (Rm. 10.17) A isso respondo que as palavras de Pedro não devem ser entendidas como se uma vida santa sozinha pudesse levar os incrédulos a Cristo, mas que suaviza e pacífica suas mentes, para que tenham menos aversão pela religião. Porque assim como os maus exemplos criam ofensas, os bons não são de pouca ajuda. Em seguida, Pedro mostra que as esposas com uma vida santa e piedosa podem fazer tanto quanto a ponto de preparar seus maridos, sem falar com eles sobre religião, para abraçar a fé de Cristo. Ora, as mentes, embora alienadas da verdadeira fé, são subjugadas quando veem a boa conduta dos crentes. Porque como não compreenderam a doutrina de Cristo, a avaliam por meio de nossa vida. Não pode ser, então, que eles elogiarão o Cristianismo, que ensina pureza e temor.
A outra parte da exortação é para as esposas se enfeitarem com moderação e modéstia: “Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma” (1Pe. 3.3-6). Porque sabemos que, a esse respeito, são muito mais curiosas e ambiciosas do que deveriam. Então, Pedro procura, não sem motivo, corrigir nelas essa vaidade. E, embora, ele reprove enfeites geralmente suntuosos ou caros, ainda assim aponta algumas coisas em particular: que elas não deviam enrolar artificialmente ou enfeitar seus cabelos, como geralmente era feito com alfinetes ou de outra forma para os modelar de acordo com a moda. Nem deviam colocar ouro em volta da cabeça, pois estas são as coisas em que especialmente aparecem os excessos.
Pode-se perguntar, agora, se o apóstolo condena totalmente o uso de ouro para enfeitar o corpo. Se alguém insistir com essas palavras, pode-se dizer que ele proíbe roupas preciosas não menos do que ouro. Assim, ele imediatamente adiciona o uso de “vestidos finos”. Ora, seria um rigor imoderado proibir totalmente o capricho e a elegância nas roupas. Se o material é considerado muito suntuoso, o Senhor o criou. Bem sabemos que a habilidade na arte procedeu dele. Então, Pedro não pretendia condenar todo tipo de ornamento, mas o mal da vaidade, a que as mulheres estão sujeitas.
Duas coisas devem ser consideradas na roupa: utilidade e decência. E o que a decência exige é moderação e modéstia. Fosse, então, uma mulher sair com seu cabelo desenfreadamente cacheado e enfeitado, e fazer uma exibição extravagante, sua vaidade não poderia ser desculpada. Aqueles que objetam e dizem que se vestir desta ou daquela maneira é uma coisa indiferente, na qual todos são livres para fazer o que quiserem, podem ser facilmente refutados. Porque elegância excessiva e exibição supérflua, enfim, todos os excessos, surgem de uma mente corrompida. Além disso, ambição, orgulho, afetação de exibição e todas as coisas desse tipo não são coisas indiferentes. Portanto, aquelas cujas mentes são purificadas de toda vaidade, ordenarão devidamente todas as coisas, de modo a não exceder a moderação.
O contraste aqui deve ser cuidadosamente observado: “mas que ela esteja no ser interior.” Catão disse que aqueles que estão ansiosamente empenhados em adornar o corpo, negligenciam o adorno da mente. Assim, Pedro, a fim de restringir esse desejo nas mulheres, apresenta um remédio para que se devotem ao cultivo de suas mentes. A palavra “coração”, sem dúvida, significa a alma inteira. Ele, ao mesmo tempo, mostra em que consiste o adorno espiritual das mulheres, que é “uma beleza permanente de um espírito manso e tranquilo.” “Permanente”, penso eu, é colocada em oposição às coisas que esmaecem e desaparecem: coisas que servem para adornar o corpo.
Em suma, Pedro quer dizer que o ornamento da alma não é como uma flor murcha, nem consiste em esplendor desaparecendo, mas é incorruptível. Ao mencionar “um espírito manso e tranquilo”, ele destaca o que pertence especialmente às mulheres. Porque existe nada mais para este sexo do que um estado de espírito plácido e sereno. Pois sabemos quão ultrajante é ser uma mulher imperiosa e obstinada. E, além disso, nada é mais adequado para corrigir a vaidade, da qual Pedro fala, do que uma plácida quietude de espírito.
O que se segue, “que é de grande valor diante de Deus”, pode se referir a toda frase anterior, bem como à palavra “espírito”. O significado, de fato, permanecerá o mesmo. Ora, por que as mulheres se preocupam tanto em se enfeitar, a não ser para que voltem os olhos dos homens para si mesmas? Mas Pedro, ao contrário, as ordena que estejam mais ansiosas pelo que é de grande valor aos olhos de Deus. Ele as dá o exemplo de mulheres piedosas que buscavam adornos espirituais, em vez de ornamentos sedutores externos. Nisso, ele menciona Sarah acima de todas as outras que, tendo sido a mãe de todos os fiéis, é especialmente digna de honra e imitação por parte das de seu sexo.
Além disso, ele retorna novamente à sujeição, e confirma isso pelo exemplo de Sara, que, de acordo com as palavras de Moisés, chamou seu marido de “senhor” (Gn. 18.12). Deus, de fato, não se limita a tais títulos. E, às vezes, pode acontecer que aquela que é especialmente petulante e desobediente, assim chamará seu marido. Desta forma, terá a palavra que estão inclinadas a evitar, bem na boca. Mas Pedro quer mostrar que Sara geralmente falava assim, porque sabia que uma ordem havia sido dada pelo Senhor, para ela está sujeita a seu marido. Pedro acrescenta que aquelas que imitaram sua fidelidade seriam suas filhas, isto é, contadas entre os fiéis.
A fraqueza do sexo faz com que as mulheres sejam desconfiadas e tímidas e, portanto, taciturnas. Porque temem que, por sua sujeição, sejam tratadas com mais reprovação. Foi isso que Pedro parece ter tido em vista ao proibir que fossem perturbadas por qualquer medo, como se tivesse dito: “De bom grado submeta-se à autoridade de seus maridos, nem deixe o medo impedir a sua obediência, como se a sua condição fosse pior, se você obedecer.” As palavras podem ser mais gerais: “Que não causem comoção em casa.” Ora, como estão sujeitas ao medo, muitas vezes dão muita importância a pequenas coisas e, assim, perturbam a si mesmas e à família.
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