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COMENTÁRIO DE CALVINO À CARTA DE TIAGO 1.2-3

PROVAÇÕES: FÁBRICA DE PACIÊNCIA
A primeira exortação é para suportar as provações com uma alegre disposição mental. Naquele momento, então, era especialmente necessário confortar os judeus, que estavam quase esmagados por problemas. Porque o próprio nome da nação era tão desprezível que, para onde quer que fossem, eram odiados e desprezados por todas as pessoas. E a sua condição de cristãos os tornavam ainda mais miseráveis, pois tinham a sua própria nação como o seu inimigo mais inveterado. Ao mesmo tempo, essa consolação não foi tão adequada unicamente à época, mas é sempre útil aos crentes, cuja vida é uma guerra constante na terra.
Contudo, para que possamos saber mais plenamente o que ele quer expressar, sem dúvida, devemos considerar as tentações ou provações como englobando todas as coisas adversas. Decerto, elas são assim chamadas, porque são os testes de nossa obediência a Deus. Ele aconselha que os fiéis, enquanto exercitados por elas, a se alegrarem. Isso, porém, não apenas quando caem em uma tentação, mas em muitas; e nem apenas de um tipo, mas de vários dele. Sem dúvida, portanto, visto que servem para mortificar a nossa carne, assim como os vícios da carne continuamente disparam a crescer em nós, também, necessariamente, devem ser repetidas com frequência. Outrossim, pois, como nos esforçamos sob doenças, não é de admirar que diferentes remédios sejam aplicados para as remover. O Senhor, então, aflige-nos de várias maneiras, porque a ambição, a avareza, a inveja, a gula, a intemperança, o amor excessivo ao mundo e as inúmeras cobiças nas quais excedemos, não podem ser curadas pelo mesmo medicamento.
Quando ele nos ordena em tê-las todas na conta das alegrias, é o mesmo que tivesse dito que as tentações devem ser consideradas como ganho, a ponto de serem aceitas como ocasiões de alegria. Ele quer dizer, em resumo, que não há nada nas aflições que deva perturbar a nossa alegria. E assim, ele não apenas nos ordena a suportar as adversidades com calma e com uma mente equilibrada, mas nos mostra que essa é uma razão pela qual os fiéis devem se alegrar quando pressionados por elas.
De fato, é certo que todos os sentidos de nossa natureza são formados de tal forma, que toda provação produz em nós tristeza e sofrimento. E, até agora, nenhum de nós pode se despojar de sua natureza a ponto de não se afligir e se entristecer sempre que sentir algum mal. Mas isso não impede que os filhos de Deus se elevem, pela orientação do Espírito, acima da tristeza da carne. É, por isso, que em meio à tribulação, não cessam de se alegrar.
♥ Provação produz paciência
Vemos, agora, por que ele chamou as adversidades de provações ou tentações: tão somente porque elas servem para testar a nossa fé. E há aqui uma razão dada para confirmar a última frase. Porque poderia, por outro lado, ser objetado: “Como é que consideramos como doce o que ao sentido é amargo?” Então, ele mostra pelo efeito que devemos nos alegrar com as aflições, porque elas produzem frutos que devem ser altamente valorizados, como a paciência. Se Deus, então, provê a nossa salvação, ele nos proporciona uma ocasião de regozijo. Pedro usa um argumento semelhante no início de sua primeira epístola: “Para que a prova da vossa fé seja mais preciosa do que o ouro etc.” [1Pe. 1.7]. Certamente, tememos doenças, necessidades, exílio, prisão, reprovação e morte, porque os consideramos como males. No entanto, quando entendemos que eles são transformados através da bondade de Deus em ajuda e auxílio para a nossa salvação, é ingratidão murmurar e não se submeter voluntariamente a sermos assim tratados paternalmente.
Paulo diz, em Romanos 5.3, que devemos nos gloriar nas tribulações. E aqui Tiago diz que devemos nos alegrar. “Nós nos gloriamos”, diz Paulo, “nas tribulações, sabendo que a tribulação produz paciência.” O que se segue, imediatamente, parece contrário às palavras de Tiago, pois ele menciona a provação em terceiro lugar, como o efeito da paciência, que é aqui colocada em primeiro lugar, como se fosse a causa. Todavia, a solução é óbvia! A palavra ali tem um significado ativo, mas aqui um sentido passivo. Provação ou teste, diz Tiago, é para produzir paciência. Porque se Deus não nos provasse, mas apenas nos deixasse livres de problemas, não teríamos paciência: que não é outra coisa, senão fortaleza mental para suportar os males. Paulo, porém, quer dizer que enquanto perseverando, vencemos os males e experimentamos o quanto a ajuda de Deus tira aproveito das necessidades. Porque, desse modo, a verdade divina é, como se fosse, realmente, manifestada a nós. É, por isso, que ousamos ter mais esperança quanto ao futuro, pois a verdade de Deus, conhecida pela experiência, é mais plenamente crida por nós. Portanto, Paulo ensina que por tal provação, isto é, por essa experiência da graça divina, a esperança é produzida. Não que a esperança apenas comece nisso, mas que ela aumenta e é confirmada. Ambos, porém, querem dizer que a tribulação é o meio pelo qual a paciência é produzida.
Além disso, as mentes das pessoas não são formadas pela natureza, de modo que a aflição por si só produza nelas a paciência. No entanto, Paulo e Pedro consideram não tanto a natureza das pessoas, mas a providência de Deus, pela qual ela vem, para que os fiéis aprendam a paciência por meio das dificuldades. Porque os ímpios são cada vez mais dados à loucura quando provados, como prova o exemplo de Faraó.
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