“A
fé verdadeira é aquela que ouve a Palavra de Deus e descansa em Sua promessa.”
– João Calvino, Exposição de Hebreus.
O Apóstolo Paulo chamou os
cristãos da cidade de Corinto para um exame e prova por demais necessários. Ele
convoca a igreja de Corinto a examinar se ela está na fé e a provar a si mesma
quanto a essa condição (2Co. 13.5). O objetivo de Paulo era levar a igreja a
evitar o pior dos enganos: aquele que diz respeito a ilusão de uma fé que
parece verdadeira, mas não é.
A fé não pode ser uma presunção
humana e nem apenas uma crença destituída de uma espiritualidade
transformadora. Devemos atentar para o fato de que constantemente somos levados
a examinar e tentar provar se o outro se encontra na fé. Paulo aponta para um
exame e prova que a pessoa deve realizar para si mesma e não lança julgamento
sobre o outro.
Como examinar e provar a si mesmo
se estar na fé se não souber que fé é essa? Ora, Paulo está falando da fé
verdadeira. Nisso, João Calvino nos ajuda. Para ele, a fé verdadeira revela-se
em duas atitudes.
A primeira atitude é que ela ouve
a Palavra de Deus. Fé, então, num primeiro momento é audição da Palavra de
Deus. É bíblica a declaração de que a fé vem pelo ouvir (Rm. 10.17). Se em mim
existe a necessidade da audição da Palavra de Deus como encontro real e
transformador com a voz de Deus que me faz obediente, temente e reverente, é
certo que em mim se encontra a fé verdadeira. Não devemos confundir os momentos
em que a Palavra cai em nosso coração e encontra espinhos e pedras. Nesse caso,
estamos diante de provações e tentações que tentam nos afastar da voz do
Pastor.
É estranho quando substituímos o
apego à Palavra, como voz de Deus para nos conduzir no caminho, e buscamos
mediações diversas. Devemos lembrar que toda prática de devoção cristã tem sua
validade porque foi ordenada ao cristão pela Palavra. Calvino nos leva a
perceber que a prática da oração é uma inspiração da fé. A oração ou o jejum
não é a fé. É o resultado da obediência à Palavra nascida da audição da fé. É
temerário que se tenha transformado a oração ou o jejum em ato meritório da fé.
A oração pela oração ou o jejum pelo jejum é forjar uma devoção vazia de seu
conteúdo: a fé.
A segunda atitude é de descanso nas
promessas de Deus. A Palavra que é ouvida nos comunica as promessas de Deus para
nossa vida. A impaciência e o desassossego ocorrem devido a incerteza quanto as
garantias advindas da fé na providência divina. Quem não ouve a Palavra, não
somente revela que não se encontra na fé verdadeira, mas se coloca num posição
de completa alienação das promessas de Deus.
As promessas de Deus traz
descanso ao crente. Ele sabe que Deus é fiel e justo para manter sua Palavra e
garantir sua herança em Cristo. Quem se encontra na fé verdadeira, sabe que o
tempo estar ao seu favor. A demora é vista não como perda de tempo, mas como
tempo que se ganha. Abraão esperou em torno de uns 25 anos pelo nascimento de
seu filho prometido. Esse tempo não foi perdido, pois Isaque se tornou,
finalmente, num sinal do triunfo da promessa de Deus e garantia o ideal é esperar
no Senhor com descanso no coração e não com ansiedade.
Para quem tem fé verdadeira, a
Palavra é a doce voz do Pastor que anuncia as boas-novas de amor, providência e
salvação, e as promessas reveladas pela voz do Pastor são as campinas com seus pastos
verdejantes e águas de descanso ao coração crente.
Essa é a estatura da verdadeira fé. Ela segue
esse caminho! A fé verdadeira assume essa grandeza: de ouvir a Palavra e
descansar nas promessas de Deus. Essa fé é inconfundível! O crente pode
discerni-la em seu coração e louvar a Deus por tão grande bem que ele fez ao
lhe dar a Palavra e suas promessas para que sua fé, sobre esse firme
fundamento, não se abale, não seja reprovada e nem iludida.
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