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Destaques

LANÇAMENTO: LIVRO "JOÃO CALVINO: QUEM DIZEM QUE SOU?"

J. A. Lucas Guimarães ┐ ♥ ┌ Sob empréstimo da pergunta de Jesus aos discípulos foi publicada a décima obra da Coleção Calvino21,  intitulada: JOÃO CALVINO: “QUEM DIZEM QUE SOU?”   Esboços de retratos calvinianos O rganizada pelo historiador e teólogo J. A. Lucas Guimarães, encontra-se a convicção de que a relação de seu contexto original com as identificações à pessoa de João Calvino desde sua morte, não é mera coincidência. Se lhe fosse oportuno um lance de existência atual, é possível que ele fizesse semelhante indagação, apesar de seu desinteresse por ela em sua existência. Desse modo, tem início o empenho de disponibilizar a verdade histórica da identidade e identificação de João Calvino: advogado, um dos principais líder da Reforma Protestante do século XVI, pastor na cidade de Genebra e escritor cristão, com vasta literatura legada à posteridade, com a íntegra apresentação do Evangelho de Cristo pela fiel exposição bíblica. Porque já se distanciam os limites dos 500 ano...

✢ JOÃO CALVINO E OS HÁBITOS DE SANTIDADE - III

 Mark Schaw *

HÁBITO Nº 2: PRATIQUE A NEGAÇÃO DO EU

De Mateus 16.24, Calvino retirou três elementos centrais da vida cristã: “A si mesmo se negue, tome a cruz e siga-me.” O que ele entendia por essa negação do eu? Para Calvino, a autonegação não era apenas o flagelo do corpo ou deixar de ingerir doces durante  a Quaresma. A verdadeira negação do eu vai muito além desses procedimentos superficiais. A base da negação do eu é uma questão de posse. Quem realmente está no controle de minha vida: Deus ou eu? Para Calvino, a resposta egoísta era inaceitável. O verdadeiro dono de cada pessoa é o Deus que criou, sustenta e redime.

A espiritualidade calvinista é construída com base em Romanos 12.1-2 e a negação dupla que essa passagem ensina:

(1) não pertencemos a nós mesmos e (2) pertencemos a Deus. Não existe um pecado em particular que deva ser mortificado primeiro, mas a raiz do pecado, que é a nossa autonomia em relação a Deus.

O que Calvino quis dizer quando afirmou que não pertencemos a nós mesmos?

Nós não somos nossos; portanto, nossa razão não controlará nossos planos e ações. Não somos nossos; não nos proponhamos a este fim de acordo com o que convém à carne. Não somos nossos; portanto, até onde seja exequível, esqueçamos a nós mesmos e a tudo que é nosso (3.7.1).
Se não somos pessoas autônomas, então quem somos? A resposta de Calvino é que somos criaturas pertencentes a Deus. A essência do calvinismo não é aprisionada pelas doutrinas da eleição ou da predestinação, mas se encontra na declaração de Calvino a respeito da posse de Deus sobre as nossas vidas:
Pelo contrário, somos de Deus, logo, para ele vivamos e morramos; somos de Deus, logo, a todas as ações nossas presidam a sabedoria e a vontade; somos de Deus, logo, para com ele, como ao só legítimo fim, se polarizem as expressões todas de nossas vidas. Oh, quanto há de proveito experimentado aquele que, ensinado que se não pertence, ab-rogou à sua própria razão a soberania e o mandato para que a Deus o aproprie! (3.7.1).
Essa negação fundamental do eu leva a uma negação específica de nossa preocupação com o eu e a vontade própria. Precisamos nos preocupar com o nome, a vontade e o plano de Deus, e não os nossos:
Pois quando a Escritura nos manda renunciar à consideração particular de nós próprios, não só do ânimo nos expunge a cupidez de possuir, a afetação do poder, o favor dos homens, como também nos erradica a ambição, e todo anseio de glória humana, e outras pestes mais secretas (3.7.2).
Uma vida de negação do eu muda a maneira como nos relacionamos com os outros. Calvino destacou que o orgulho, o ciúme e a inveja (e a rivalidade que eles produzem) são endêmicos nos relacionamentos humanos:
Mas ninguém há que não nutra interiormente algum conceito de sua excelência própria. Destarte, a si adulando, no peito, um a um, engendram os homens um reino, pois, em a si arrogando o de que se aprazam, censura movem acerca do caráter e dos costumes dos outros (3.7.4).
Sendo esse o caso, a gentileza, a humildade e a inferioridade diante dos outros são as principais marcas da negação do eu em nossos relacionamentos. Quando negamos a nós mesmos, procuramos usar nossos recursos para o bem dos outros, e não apenas para nós mesmos.  Calvino insiste que:
A Escritura, porém, para que pela mão a isto nos conduza, premune que todas as graças do Senhor que obtemos nos são confiadas com esta condição; que se destine ao bem comum da Igreja e, por isso, o uso legítimo de todas as graças é o liberal e generoso compartilhar com os outros (3.7.5).
A autonegação buscará servir até ao mais indesejável, pois não surge de um amor egoísta, mas de um amor pelos outros por causa de Deus. Mesmo:
[...] quando não só nada de bom há merecido, mas até te há provocado com injustiças e malefícios, não é esta, na verdade, justa causa por que te deixes tanto de abraçar com amor quanto de cumular dos benefícios da estima (3.7.6).
O contentamento é a expressão primária da negação do eu diante de Deus:
Também resta que não porfiemos cobiçosamente por posses e honras, fiados ou em nossa própria agudeza de intelecto, ou em nossa diligência de ação, nem no favor dos homens, ou confiados na vã imaginação da sorte; pelo contrário, volvamos sempre os olhos para com o Senhor, a fim de que, por seus auspícios, sejamos conduzidos a qualquer destino que nos haja ele providenciado (3.7.9).
Em resumo, a prática da negação do eu levará a atitudes de desapego e contentamento. Segundo a conclusão de Calvino, a pessoa que aprendeu a negar a si mesma ficará contente com:
[...] o que quer que lhe aconteça, porque o saberá ordenado pela mão do Senhor, recebê-lo de ânimo sereno e agradecido, para que não resista contumazmente à autoridade daquele a cujo poder a si próprio e a tudo o que é seu há submetido de uma vez por todas (3.7.10).
Esse é o segredo espiritual da negação do eu.

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* Extraído e adaptado de SHAW, Mark. Lições de mestre. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.

Hábito nº 2: pratique a negação do eu
Hábito nº 3: carregue a cruz
Hábito nº 4: olhe para a eternidade
Hábito nº 5: use tudo desta vida para a glória de Deus
Hábito nº 6: seja persistente na oração

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