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Destaques

✢ LANÇAMENTO: LIVRO "CALVINO, CIÊNCIA E FAKE NEWS"

  Não é sem imensa expectativa e alegria que se empreende a publicação da décima primeira obra de caráter temático calviniano da Série Calvino21 , sob autoria do Rev. J. A. Lucas Guimarães, historiador, teólogo e organizador do Calvino21 , intitulado  CALVINO, CIÊNCIA E FAKE NEWS:  a invenção da oposição calviniana à Ciência moderna na historiografia do século XIX.   Principalmente, ao considerar a singularidade do conteúdo, o nível do conhecimento alcançado e o caráter da percepção do passado envolvida, disponibilizados à leitura, reflexão e intelectualidade, caso o arbítrio do bom senso encontrado, esteja em diálogo com a coerência da boa vontade leitora. Com a convicção da pertinência da presente obra ao estabelecimento da verdade histórica sobre a postura de João Calvino (1509-1564) diante dos ensaios preparatórios no século XVI  ao início da Ciência Moderna ocorrido no século XVII,  representado por Nicolau Copérnico (1473-1543) com sua teoria do movimento da Terra ao redor do Sol

✢ CALVINO E SUA CATOLICIDADE DE ESPÍRITO

Philip Shaff *

Calvino era um francês de nascimento e educação, um suíço por adoção e trabalho de vida, um cosmopolita de espírito e objetivo. A Igreja de Deus era sua casa, e essa Igreja não conhece fronteiras de nacionalidade e idioma. O mundo era sua paróquia.

Tendo deixado o papado, ele ainda permaneceu um católico, no melhor sentido dessa palavra, e orou e trabalhou pela unidade de todos os crentes. Semelhante ao seu amigo Melâncton, ele lamentou profundamente as divisões do protestantismo. Para as restaurar, ele estava disposto a cruzar dez oceanos. Assim ele escreveu em resposta ao Arcebispo Cranmer, que o havia convidado (em 20 de março de 1522), com Melâncton e Bullinger, para uma reunião no Lambeth Palace, com o objetivo de elaborar um credo consenso para as Igrejas Reformadas. Depois de expressar seu zelo pela Igreja universal, ele continua (em 14 de outubro de 1522):

"Gostaria, de fato, que fosse possível conseguir que homens de erudição e autoridade de diversas igrejas se reunissem em algum lugar, e depois de discutir minuciosamente os diferentes artigos de fé, devessem, por decisão unânime, entregar à posteridade alguma verdadeira regra de doutrina. Mas entre os principais males da época, deve ser contado a acentuada divisão entre as diferentes igrejas, de modo que dificilmente se pode dizer que a socialização humana está estabelecida entre nós, muito menos uma santa comunhão dos membros de Cristo, que, embora todos a professem , poucos realmente observam com sinceridade. Mas se o clero é mais morno do que deveria ser, a culpa recai principalmente sobre seus soberanos, que estão tão envolvidos em seus assuntos seculares que negligenciam completamente o bem-estar da Igreja e, na verdade, a própria religião, ou tão satisfeitos em veem seus próprios países em paz, a ponto de se importarem pouco com os outros. E, assim, os membros sendo divididos, o corpo da Igreja fica dilacerado."

"Quanto a mim, se eu pensasse em alguma utilidade, eu não faria objeção, se necessário, a cruzar dez mares para tal propósito. Se apenas a assistência da Inglaterra estivesse em causa, isso seria motivo suficiente para mim. Muito mais, no entanto, sou de opinião que não devo ressentir-me de nenhum trabalho ou dificuldade, visto que o objetivo em vista é um acordo entre os eruditos, a ser elaborado pelo peso de sua autoridade de acordo com as Escrituras, a fim de unir Igrejas sentadas distantes umas das outras, mas minha insignificância me faz ter esperança de ser poupado. Terei cumprido minha parte oferecendo minhas orações pelo que pode ter sido feito por outros. Melanchton está tão longe que leva algum tempo para trocar cartas. Bullinger talvez já o tenha respondido antes desse tempo. Eu só gostaria de ter o poder, como tenho inclinação, para servir a causa!"

Este nobre projeto foi anulado ou postergado indefinidamente pela morte de Eduardo VI e o martírio de Cranmer, mas continua vivo como um pium desiderium [desejo piedoso]. Em oposição a uma uniformidade forçada e mecânica, Calvino sugeriu a ideia de uma unidade espiritual com variedade denominacional ou de um rebanho em muitos apriscos sob um pastor. Esta ideia foi adotada em nossa era pela Evangelical Alliance, o Pan-Anglican Council, a Pan-Presbyterian Alliance, a Pan-Methodist Conference, a Associação Cristã de Moços, a Christian Endeavor Societies e associações voluntárias semelhantes, que reúnem cristãos de diferentes igrejas e nacionalidades para conferência e cooperação mútuas, sem interferência em sua autonomia organizacional e preferências denominacionais.

Um permanente monumento da catolicidade de Calvino é sua imensa correspondência, que preenche dez volumes in-quarto da última edição de suas obras, e abrange ao todo nada menos que 4.271 cartas. Ele deixou para Beza uma coleção de manuscritos com poder discricionário, para publicar a partir dela o que julgasse poder promover a edificação da Igreja de Deus. Assim, Beza editou a primeira coleção de cartas de Calvino onze anos após sua morte, em Genebra, em 1575. Esta edição foi várias vezes reimpressa várias, e enriquecida gradualmente com cartas descobertas em várias bibliotecas por Liebe, Mosheim, Bretschneider, Crottet, Jules Bonnet, Henry Beveridge, Reuss e Herminjard.

Nenhum teólogo deixou para trás uma correspondência igual em amplitude, destreza e importância. Em suas cartas, Calvino discute os mais profundos tópicos da religião, aconselha como um pastor fiel, administra conforto a irmãos que sofrem, desabafa com seus amigos e resolve questões políticas difíceis, como um sábio estadista, nas dificuldades da pequena República com Berna, Savoy e França. Entre seus correspondentes estão todos os reformadores remanescentes (Melâncton, Bucer, Bullinger, Farel, Viret, Cranmer, Knox, Beza, Pedro Mártir, Jan Laski), monarcas (rainha Margarida de Navarra, duquesa Renata de França, rei Sigismundo Augusto da Polônia, o Príncipe-Eleitor Otto Heinrich do Palatinado, o duque Christopher de Wittenberg), estadistas e representantes de governo (como o Duque de Somerset, o Protetor da Inglaterra, príncipe Radziwil da Polônia, Gaspar II de Coligny da França, os magistrados de Zurique, Berna, Basel, St. Gall e Frankfurt) e humildes confidentes e mártires a quem ele enviou cartas de conforto na prisão.

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* SCHAFF, Philip. "Calvin's Catholicity of Spirit". In SCHAFF, Philip. History of Christian Church, Volume VIII: Modern Christianity. The Swiss Reformation (Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library), p. 676-678.
Tradução: Calvino21.

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