Destaques
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
✢ CALVINO E A TEOLOGIA REFORMADA
O lugar de Calvino na teologia reformada não está, obviamente, sujeito a discussão. O que se destaca são as diferentes formas de se apropriar de seu legado.
Leopoldo Cervantes-Ortiz *
┐♥┌
Cada nova abordagem da teologia protestante, passe ou não pela pessoa de alguns dos seus representantes e expositores, deve considerar seriamente as inevitáveis mudanças nas ideologias, crenças e perspectivas com que a fé cristã foi assumida e praticada ao longo da história. No caso de um aspecto da referida teologia, a chamada “tradição reformada”, a figura de João Calvino atraiu, e continua atraindo, diversas interpretações que vão do elogio irrestrito à mais absoluta rejeição, passando por todas as imagináveis variações. Alguns chegaram ao ponto de dizer que o próprio Calvino não seria aceito em sua própria tradição por ser radical demais, algo como um teólogo da libertação. Se esses extremos ocorrem dentro do espectro espiritual que leva seu nome, quanto mais “exterior” à sua herança, ele é visto com suspeita e sob fortes críticas. Assim, tentar situá-lo no quadro dos impulsos teológicos que o reconhecem como um dos seus mais ilustres expositores, representa um esforço obrigatório para os fins de divulgação que constituem este volume.
Calvino foi incorporado centralmente ao segundo estágio da formação da teologia reformada, porque o verdadeiro fundador, o suíço Ulrich Zwingli (1484-1531), não conseguiu ver o alcance de suas ideias religiosas. Um marco dessa tradição é que vários dos seus seguidores trabalharam em estreita colaboração com o humanista francês. Assim, recuperar a visão e orientação próprias, bem como a marca específica que trouxe para a tradição que ajudou a formar, é algo muito necessário. É claro que Calvino não poderia de forma alguma ser calvinista, como foi discutido por Bernard Cottret, um de seus biógrafos a mostrar que, na própria França, muitos pastores ou líderes descobriram, com bastante surpresa, que eram mais calvinistas do que eles mesmos supunhavam. Isso foi demonstrado por uma pesquisa que mostrou, que nem mesmo em seu país natal a marca daquele “fundador desconhecido” foi suficientemente percebida. […]
Outro biógrafo, Denis Crouzet, mergulhou nas profundezas da psicologia de Calvino para encontrar ligações firmes à formação da tradição posterior: “…ele era quase um ser desprovido de paixões, que cultivava a moderação em todas as coisas e em todos os momentos; caracterizou-se por uma ‘louvável mediocridade’; Comia pouco, dormia menos ainda, mas vivia ‘esquecendo-se de servir a Deus e ao próximo na sua posição e na sua vocação’”. [1]
É difícil conceber a face da tradição reformada sem Calvino. Porque, apesar da sua vida relativamente curta (55 anos), o volume da sua contribuição para ela, pode ser verificada simplesmente considerando os 58 volumes que a compõem dentro do Corpus Reformatorum, além do seu peso específico na formação do perfil completo dessa teologia. Sobre a importância bastante qualitativa dessa presença indiscutível e a sua utilidade prática, Salatiel Palomino López escreveu:
No entanto, o que se destaca não é a enorme magnitude da sua obra, mas a elevada qualidade e transcendência dos referidos escritos, a sua riqueza, a sua solidez, a sua erudição, a sua utilidade prática, a sua poderosa inspiração e a sua beleza de estilo. Hoje, essas obras clássicas da literatura evangélica continuam a manter um brilho e profundidade que as tornam leituras inestimáveis e obrigatórias àqueles que buscam um modelo de excelência expositiva e teológica ao ministério cristão. Assim, o jovem humanista, cuja primeira publicação académica não teve grande significado, encontrou na causa da Reforma Protestante um público que esgotou avidamente as diferentes edições dos seus amados livros. [2] […]
É claro que o lugar de Calvino dentro da teologia reformada não está em debate. O que é óbvio são as diferentes formas de apropriação do seu legado. Vários especialistas têm apontado que uma forma de abordá-lo é o aspecto geográfico da apropriação de que tem sido objeto, uma vez que, por exemplo, o calvinismo continental (França, Suíça, Holanda, Alemanha) não é o mesmo calvinismo insular (Ilhas Britânicas), pois foi esse último que teve capacidade de exportar, através do impulso missionário dos séculos após o início da Reforma, as ideias e doutrinas do reformador. Graças a esse ramo da teologia reformada (presbiteriana), que informou as comunidades do que mais tarde se tornaria os Estados Unidos, ela se espalhou para outras partes do mundo. Prova disso, é o crescimento exponencial do presbiterianismo na Coreia do Sul, de onde surgiram alguns estudiosos muito criativos de sua própria tradição.
________________
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Postagens mais visitadas
✢ CALVINO E O POLÊMICO CASO SERVETO (1553)
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
✢ A MORTE DE JOÃO CALVINO
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Comentários
Postar um comentário