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LANÇAMENTO: LIVRO "JOÃO CALVINO: QUEM DIZEM QUE SOU?"

Sob empréstimo da pergunta de Jesus aos discípulos foi publicada a décima obra da Coleção Calvino21,  intitulada: ┌   JOÃO CALVINO: “QUEM DIZEM QUE SOU?”   ▪  Esboços de retratos calvinianos  ▪ O rganizada pelo historiador e teólogo J. A. Lucas Guimarães, encontra-se a convicção de que a relação de seu contexto original com as identificações à pessoa de João Calvino desde sua morte, não é mera coincidência. Se lhe fosse oportuno um lance de existência atual, é possível que ele fizesse semelhante indagação, apesar de seu desinteresse por ela em sua existência. Desse modo, tem início o empenho de disponibilizar a verdade histórica da identidade e identificação de João Calvino: advogado, um dos principais líder da Reforma Protestante do século XVI, pastor na cidade de Genebra e escritor cristão, com vasta literatura legada à posteridade, com a íntegra apresentação do Evangelho de Cristo pela fiel exposição bíblica. Porque já se distanciam os limites dos 500 anos d...

JOÃO CALVINO NO DICTIONNAIRE HISTORIQUE DE LA SUISSE (DHS)

Nascido em 10/7/1509, em Noyon (Picardia) e falecido em 27/5/1564, em Genebra. Filho de Gérard Cauvin, notário do bispado da catedral de Noyon. Primo de Pierre Robert Olivétan. Casado, em 1540, com Idelette de Bure (+1549), viúva de Jean Stordeur, anabatista encaminhado de volta à fé reformada por Calvino. Estudou em Paris (Letras), em Orléans e em Bourges (Direito, com Pierre de l'Estoile e André Alciati, e licenciado em 1531). Em Orléans, Calvino foi apresentado às ideias gregas e reformadas com Melchior Wolmar. Com a morte de seu pai (1531), retornou a Paris com a intenção de se dedicar à literatura clássica (comentário sobre De Clementia de Sêneca, 1532). Mas convertido definitivamente à Reforma, ele deixou a capital no final de 1533. Depois de estadias com Margarida de Navarra em Angoulême e Renée d'Este em Ferrara, ele se instalou em Basileia e publicou a primeira edição latina da Institutas da Religião Cristã (1536). Em julho de 1536, ao passar por Genebra, que havia sido recentemente conquistada à Reforma, ele foi contratado por Guillaume Farel. Nomeado leitor da Sagrada Escritura, tornou-se pastor alguns meses depois. Na Páscoa de 1538, após conflitos sobre a administração da Ceia com o Conselho da Cidade, Farel e Calvino foram banidos de Genebra. Calvino dirige-se à Estrasburgo para se tornar pastor da comunidade de refugiados de língua francesa e lecionar na nova Academia. Ele publicou o primeiro de seus vários comentários bíblicos (sobre a Epístola aos Romanos, 1540), a segunda edição da Institutas (ampliada de 6 para 17 capítulos, 1539) e sua tradução francesa (1541), “primeiro monumento da língua francesa eloquência.” Compôs uma liturgia em francês, muito influenciada pela de Martin Bucer, publicou uma primeira coletânea de salmos versificados por Clément Marot. Ele participou com Bucer nas conferências de Worms e Regensburg (1540-1541) e se tornou amigo de Philippe Melanchthon.

Retrato de João Calvino. Pintura anônima do século XVI (Biblioteca de Genebra).

As autoridades de Genebra, praticamente desprovidas de administradores e juristas competentes, após a saída dos oficiais episcopais e tendo recebido as demissões de dois dos pastores nomeados para substituir Farel e Calvino, obrigaram-se, em 1540, ao convite a Calvino de volta ao cargo. Com relutância e após uma demora de dez meses, Calvino concordou em retornar a Genebra, pensando em ficar por um breve período. Ele permaneceria lá por vinte e três anos, até sua morte.

Sua primeira tarefa foi a escrita (1541-1542) de três documentos fundamentais: as Ordenações Eclesiásticas, o Catecismo e a Forma de Orações (liturgia). Ele devolveu, assim, à Igreja de Genebra as estruturas e formulações doutrinárias e litúrgicas que haviam desaparecido após a saída do bispo. As ordenanças definiam um ministério quádruplo: pastores, doutores (ensino), presbíteros (disciplina) e diáconos (hospital e esmola). A Companhia de Pastores tornou-se o local à formação contínua dos ministros e desempenhou um papel de supervisão que poderia ser descrito como um “bispo coletivo”. O Consistório, que reunia pastores e presbíteros (a maioria, escolhida entre os conselheiros da cidade), era responsável por supervisionar as crenças e a moral da população. Ao contrário de Zurique e Berna, o Consistório de Genebra tinha o direito (contestado até 1557) de pronunciar a excomunhão (exclusão da Ceia).

Frontispício dos comentários ao Livro de Daniel, publicado em Genebra em 1561 (Biblioteca de Genebra, Arquivos A. & G. Zimmermann).

Por meio de suas frequentes intervenções no Conselho da cidade, como porta-voz da Companhia e através dos seus numerosos sermões (cerca de duzentos e cinquenta por ano), Calvino procurou realizar em Genebra não apenas uma reforma religiosa, mas uma mudança radical no comportamento social e individual. Seu ideal era a Nova Jerusalém, a cidade santa. Calvino, porém, não detinha nenhuma autoridade política na cidade e só se tornou burguês [cidadão] em 1559. Através dos seus numerosos escritos em latim e francês, comunicou a sua mensagem de forma mais amplamente, particularmente na França. A atração que exercia podia ser medida pelos milhares de refugiados que afluíram à Genebra (de 1535 a 1562, a população da cidade passou de 10.000 para 23.000 habitantes); a impressão tornou-se uma importante indústria e os professores e estudantes da Academia (fundada em 1559) fizeram de Genebra o centro de formação do protestantismo francófono. Exausto pelo trabalho e pelas lutas, prejudicado por diversas doenças, Calvino faleceu pouco antes de completar 55 anos.

A mensagem, em sua essência, não difere da dos outros reformadores, mas Calvino soube conferir-lhe amplitude e coerência (especialmente na versão definitiva da Institutas da Religião Cristã, 1559 em latim e 1560 em francês, quatro livros e oitenta capítulos) que não encontramos nem em Lutero nem em Zwinglio. Somos justificados (tornados aceitáveis) diante de Deus não por boas obras que mereçam a salvação (aos olhos de um Deus infinitamente puro, nenhuma ação humana, por parte de uma humanidade desfigurada pela Queda, é meritória), mas pela graça, pelo dom gratuito de Deus em Jesus Cristo. A única coisa que Deus espera de nós é que creiamos, que tenhamos fé. É a Bíblia, a única fonte da revelação divina, é que fundamenta estas afirmações, e não a hierarquia eclesiástica (nem o papa nem o Concílio).

Entre as características distintivas da doutrina de Calvino mencionemos a sua forte percepção da separação entre Deus e o ser humano: a majestade infinita de Deus caminha de mãos dadas com a consciência da queda total do homem. Ao contrário de Lutero, Calvino considerava a Bíblia uniformemente inspirada pelo Espírito Santo, o que o levou a valorizar o Antigo Testamento mais do que os outros reformadores. A ideia de povo eleito, fundamental à historiografia judaica, não é estranha à firmeza com que Calvino expõe a dupla predestinação: escolha de Deus, segundo a qual alguns são eleitos (o que demonstra a misericórdia divina) e outros são eternamente condenados (expressão da justiça de Deus). Quanto à controvérsia eucarística, Calvino buscou um meio-termo entre Lutero e Zwinglio. Por um lado, com os luteranos, ele se refere (Pequeno Tratado da Santa Ceia, 1541) prontamente a Jesus Cristo como a "substância" do sacramento e afirma que recebemos "verdadeiramente na Ceia do Senhor o corpo e o sangue de Jesus Cristo." Por outro lado, com os zwinglianos, ele acrescenta que “o Senhor nos representa ali a comunhão de um e de outro, nossas almas recebem o alimento espiritual.” Embora Calvino tenha conseguido atingir seu objetivo com os sucessores de Zwinglio (Consensus Tigurino, 1549), nenhum acordo foi possível com os luteranos e a hostilidade entre os campos opostos lançou uma sombra sobre a história durante séculos. No que diz respeito à relação entre Igreja e Estado, Calvino ensina um grau de autonomia à Igreja (mais acentuado do que com Lutero ou Zwinglio), que a permite sobreviver em um ambiente hostil (na França, nos Países Baixos).

Poucos indivíduos exerceram uma influência tão forte e variada quanto Calvino. Devemos a ele não apenas um pensamento teológico fortemente estruturado e lúcido, que inspirou as Igrejas Reformadas em todo o mundo (Calvinismo), mas também o início de um movimento de valorização da responsabilidade individual, que conduzirá à democracia moderna. É-lhe atribuído (por vezes em excesso) um papel na ascensão do capitalismo. Pela lucidez e simplicidade do seu estilo, contribuiu significativamente para a formação da língua francesa clássica. Apesar do seu pessimismo radical em relação à humanidade caída, ele foi capaz de comunicar a visão de uma humanidade redimida, responsável perante Deus, atenta à dignidade humana, porque está totalmente ocupada a exaltar a honra e o louvor de Deus.

 Referência bibliográfica

BAUM, G. et al. (Ed.) Joannis Calvini opera quae supersunt omnia, 58 vol., 1863-1900.
BENOIT, J.-D. (Ed.). Institution de la religion chrestienne, 5 vol., 1957-1964.
SUPPLEMENTA CALVINIANA, 1-, 1936-.
WENDEL, F. Calvin, sources et évolution de sa pensée religieuse, 1950.
PETER, R.; GILMONT, J.-F. (Ed.). Bibliotheca Calviniana, 1991-2000 (bibliogr. da 16ª edição).
COTTRET, B. Calvin, 1995.

Autoria  Francis Higman
Artigo sob título original "Calvin, Jean". In: Dictionnaire historique de la Suisse (DHS), versão de 17.09.2009. Disponível em: https://hls-dhs-dss.ch/fr/articles/011069/2009-09-17. Acesso em: 06.11.2025. Tradução: Calvino21.

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